Uso da felicidade como indicador ainda é incipiente no mundo corporativo, mas tende a crescer nos próximos anos
A adoção da felicidade como indicador, conceito instituído pelo Butão para acompanhar seu desenvolvimento social, além de ter chegado a outros países, ganha cada vez mais espaço nas companhias em todo o mundo. No Brasil, dizem especialistas, seu uso tende a crescer nos próximos anos.
Heineken, UnitedHealth Group (UHG), Deloitte, Grupo Haganá, Google, Boticário, Suzano, Takeda e Edenred são alguns exemplos de companhias que internalizaram o conceito de felicidade corporativa em suas operações no país.
A americana UnitedHealth Group (UHG), dona da Amil, começou a desenvolver o conceito neste ano. “A felicidade existe quando a pessoa entende o propósito da empresa e como ela se conecta com esse propósito”, afirma a gerente sênior de marca empregadora, experiência de pessoas e comunicação interna da UHG, Suzie Clavery. A empresa busca mostrar aos funcionários a importância da atuação de cada um e criar um ambiente de segurança psicológica, para que todos se sintam confortáveis para serem como são, opinar e expressar preocupações.
A Heineken foi a primeira no Brasil a criar a diretoria de felicidade, no início deste ano. “A gente entende que é preciso ter uma estrutura e recursos para sustentar a estratégia”, diz a vice-presidente de pessoas da Heineken Brasil, Raquel Guarinon Zagui.
A cervejaria treinou as lideranças e 650 empregados que atuarão como embaixadores da felicidade. A Heineken adotou a metodologia Permah, que tem como pilares a promoção de emoções positivas, engajamento, relações positivas, trabalho com significado, realizações e cuidados com a saúde. A cada 15 dias, a empresa faz uma pesquisa para mensurar a evolução no nível de felicidade das equipes.
O Grupo Haganá, de segurança privada de origem israelense, também criou um departamento de felicidade e adotou ações para engajar as equipes. O CEO da organização, Chen Gilad, diz que a empresa também trabalha com os clientes para abraçarem a causa, revertendo 1% do valor do contrato diretamente para os colaboradores que atuam na companhia.
A Deloitte desenvolve a felicidade corporativa desde 2021. A líder de talentos da consultoria, Dani Plesnik, disse que a empresa criou um programa de bem-estar e trabalha para fortalecer conexões humanizadas. “Tiramos o crachá para reconectar as pessoas pelos propósitos”, afirma Plesnik.
Um estudo do Instituto Gallup com 122 mil trabalhadores em 160 países revela que 23% dos empregados estão engajados com o propósito da empresa e o custo do baixo engajamento na economia global é de US$ 8,8 trilhões.
“Por muito tempo, as empresas achavam que bastava dar benefícios. Mas a pessoa precisa ver significado no seu trabalho. E ter segurança psicológica”, afirma a fundadora da Reconnect Happiness at Work, Renata Rivetti. “Não adianta fazer um escritório bonito, instagramável, com tobogã e frigobar, e fazer festas. O que engaja as pessoas é um trabalho com sentido”, diz a fundadora do Instituto Feliciência, Carla Furtado.
O professor da Fundação Dom Cabral, CEO e fundador da Vinning, Vinicius Kitahara, afirma que o que mais contribui para a felicidade no trabalho são relacionamentos de confiança e qualidade. “Quanto mais relações desse tipo, maior a felicidade corporativa”, diz.