Uma vida com menos preocupações financeiras, contas para pagar e tranquilidade ao fim do mês seria mesmo a receita para a felicidade?
Nos últimos anos vimos um aumento da pobreza global e em paralelo desafios de saúde mental, com altos índices de depressão, ansiedade e síndrome de burnout. Afinal, esses temas estão relacionados? Dinheiro pode ajudar na felicidade? Essa é uma discussão antiga e já há várias análises sobre o tema, porém nos últimos anos as hipóteses ganharam novos estudos científicos para nos responder essas questões.
Para aprofundar esse tema, o pesquisador Jon Jachimowicz, da Harvard Business School, liderou uma série de estudos sobre impactos financeiros em nossas vidas. Eles constataram que, embora não seja necessária uma vida de conquistas materiais, dinheiro pode proporcionar algo importante para a felicidade: menos preocupações diárias. A falta de dinheiro traz ansiedade, medo, insegurança, vergonha e culpa. Emoções que dificultam uma vida feliz.
Em um desses estudos os pesquisadores concluíram que situações desagradáveis e desgastantes todos nós iremos passar, porém aqueles com uma renda mais alta têm menos impacto desses acontecimentos, pois eles têm acesso à serviços que facilitam suas vidas.
Mas será que essa vida com menos preocupação traz mesmo felicidade? Quando pensamos em felicidade através do conceito de uma vida com emoções positivas mas também com significado, como diz o economista comportamental da London Business School, Paul Dolan, entendemos que talvez não seja tão simples assim.
Um recente estudo de Stanford com 500 mil pessoas em 123 países, concluiu que pessoas com alta renda tendem a ter sim mais emoções positivas e menos preocupações, porém buscam menos significado na vida do que pessoas com uma renda menor.
Ou seja, pessoas de alta renda buscam a felicidade em uma vida mais hedônica, que o dinheiro pode comprar, como viagens, luxo, restaurantes, experiências. Porém, buscam menos significado do que pessoas de baixa renda, que, pela falta dessa vida hedônica, precisam preencher esse outro pilar da felicidade, que é a vida eudaimônica, uma vida de autorrealização e propósito. Para as pessoas com menor renda, os laços afetivos e a busca de atividades que tragam sentido, como uma religião em suas vidas, é muito mais importante do que aqueles com alta renda.
Na minha visão, estudando felicidade há alguns anos e também pela minha própria experiência, a vida hedônica que as pessoas com mais dinheiro buscam traz sim um pico de felicidade em alguns momentos, porém não compensa a falta de significado na vida. Uma hora essa vida hedônica não preencherá o vazio de não sabermos qual nosso propósito, nossa missão, o sentido de nossas vidas.
Nossa sociedade focou muito nessa busca pelo sucesso financeiro e, de fato, acreditamos que preencher nossas vidas com experiências luxuosas e conquistas materiais nos fará felizes. Mas quando vemos neste estudo que as pessoas com menos renda encontram mais propósito em suas vidas, se preocupam mais com os outros, e encontram mais sentido em suas existências, será que não está na hora de revermos nossos valores?
Certamente, como os estudos mostram, dinheiro ajuda em uma vida mais estável e calma. Não podemos ser ingênuos de negar isso. Porém, a busca incessante pelo dinheiro, perdendo saúde, relações e tempo, com certeza não é o melhor caminho. Não há uma fórmula mágica ou caminho único para a felicidade, mas que possamos como sociedade rever nossos paradigmas, crenças e buscas.
Que possamos entender que nossa felicidade não virá em detrimento do bem-estar de outras pessoas. É preciso pensar de forma mais comunitária, colaborativa, entendendo que o dinheiro é uma fonte de tranquilidade, mas que a vida com equilíbrio entre prazer e propósito é essencial para uma felicidade duradoura.